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Homenagem - Imigração Italiana

Imigração Italiana

150 anos de história e legado ao Brasil

 

Neste ano de 2024, o Brasil celebra os 150 anos da Imigração Italiana, particularmente no dia 21 de fevereiro, considerado o Dia Nacional do Imigrante Italiano, data esta que marca não apenas a chegada dos italianos ao país, mas também, a contribuição significativa dessa comunidade para com a sociedade brasileira. Há cerca de 32 milhões de descendentes de italianos, no Brasil, segundo a Embaixada da Itália no Brasil, além de 730.000 cidadãos italianos. A ligação entre os dois países é profundamente enraizada. Empresas italianas têm investido em setores estratégicos no Brasil, impulsionando o crescimento econômico, enquanto cientistas, pesquisadores, artistas e diversos profissionais italianos têm deixado sua marca no País, enriquecendo nossa cultura e, igualmente a sociedade do país.

O Dia Nacional do Imigrante Italiano foi instituído para homenagear e celebrar a importância da comunidade italiana para a construção e desenvolvimento do Brasil. Sancionado pela Lei n. 11.687, de 2 de junho de 2008, o dia é comemorado, todos os anos, em memória da histórica expedição de Pietro Tabacchi ao Espírito Santo, em 1874. Esse evento simboliza o início do processo migratório em massa de italianos para o Brasil, haja vista ter sido precedido por chegadas anteriores, em quantidades limitadas, em vários outros estados do País.

A cidade de Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo, é reconhecida como pioneira na Imigração Italiana no Brasil. Oficialmente celebrada em 21 de fevereiro, a chegada do navio "La Sofia", em 1874, com quase 400 italianos, é um marco importante nessa trajetória. A cidade de São João Batista, em Santa Catarina, também reivindica o pioneirismo, porém, uma lei federal concedeu oficialmente a distinção à cidade espírito-santense.

A Contribuição Cultural e Econômica dos Italianos no Brasil: Santa Teresa possui forte presença da cultura italiana, com 97% das famílias sendo descendentes de italianos. Eventos como o Circolo Trentino e a Festa do Imigrante são exemplos de como a italianidade está enraizada na vida social e cultural da cidade. O turismo desempenha um papel fundamental na economia local, e as celebrações de 2024 atraíram um número significativo de visitantes, contribuindo para com o desenvolvimento da região.

Apesar de Santa Teresa ser a cidade pioneira na Imigração Italiana, São Paulo é um dos estados que mais recebeu imigrantes italianos, no Brasil. Essa presença é vista tanto na capital, em alguns bairros, como por exemplo, Brás, Mooca, Belenzinho, Bexiga, Barra Funda quanto em vários municípios do estado. Quem circula pelas ruas do bairro da Mooca, região Leste de São Paulo, consegue ver um pouco da Itália em suas ruas, e principalmente, em seus habitantes. Isso é reflexo da Imigração Italiana no Brasil, que trouxe consigo muitos de seus valores, costumes e comidas para o dia a dia brasileiro.

A imigração italiana deixou marcas profundas em cidades do interior paulista, como Barretos, Americana, Mogi Mirim, Jundiaí, Amparo, Jarinu, Itupeva, Serra Negra, Santa Rita do Passa Quatro, Batatais, Pedrinhas Paulista, Ribeirão Pires, Jaboticabal, Taubaté, Canas, São Sebastião, Guaratinguetá, Itu, Salto, São Roque, entre outras. Os imigrantes italianos chegaram a essas regiões para trabalhar nas fazendas de café, contribuindo para com o desenvolvimento local. Hoje, várias cidades mantêm suas tradições, como festas, culinária típica e eventos culturais, que celebram a tradição de “La Bella Itália”.

O Legado dos Imigrantes Italianos no Brasil

Neste 150º aniversário, é importante evocar e celebrar o legado dos imigrantes italianos, que deixaram marcas na cultura da sociedade brasileira e que tanto contribuíram para com o desenvolvimento do Brasil.

A Revista Hadar conversou com alguns empresários/empreendedores/visionários, italianos-brasileiros, que relataram como foi sua chegada ao Brasil, como foi sua trajetória e como vivem, até os dias de hoje.

Giovanni Visciglia, de 78 anos, que diz amar muito este país e tem-no como segunda pátria, relatou-nos sua jornada: empreendedor e visionário, chegou ao Brasil em 1961, aos 16 anos, no porto de Santos. Após passar por São Bernardo do Campo, fixou residência em “nossa querida Tatuí”, (assim como ele se refere a ela), onde seu irmão Vicenzo já morava há muito tempo. Portanto, Giovanni considera-se um "pé vermeio", há 62 anos.

Para Visciglia, a maior dificuldade foi o idioma, que era bastante difícil de pronunciar, especialmente para alguém tão apegado ao idioma natal. Ele se recorda de que sua cunhada, então professora no Colégio Barão de Suruí, tentou ensinar-lhe português, mas após 5 meses, a professora chamou seu irmão agradecendo por ter aprendido italiano, pois não lhe conseguira ensinar sequer uma frase completa. Isso resultou em brigas com o irmão e, a posterior mudança para São Bernardo do Campo, onde foi morar com as irmãs. Todavia, brigou com elas também. Após este desentendimentos também, decidiu tentar a vida sozinho. Começou trabalhando em uma padaria em frente à casa delas; sendo que dormia no próprio local de trabalho, iniciando assim sua jornada no Brasil e no empreendedorismo.

A adaptação foi lenta e gradual, mas Giovanni progrediu ao trabalhar e fazer cursos profissionalizantes, como Desenho e projetos mecânicos, seguindo os passos de seu pai, artesão que, na Itália, trabalhava com ferro. Ele se impressionou com a modernidade e segurança do Brasil, em comparação com sua pequena cidade, Cervicati, Província di Cosenza, região da Calabria, na Itália, onde a vida pós-guerra era difícil, sem perspectivas.

O que mais impressionou Giovanni é a relação entre Brasil e Itália, encontrando no Brasil uma segunda pátria. Mantém fortes laços com sua família na Itália, visitando-os pelo menos uma vez ao ano. Apesar de residir nos Estados Unidos há 30 anos, em busca de melhores condições sociais, jamais pensou em deixar o Brasil, onde está todo o seu amor e onde tudo que conquistou está localizado.

Já para o empresário Alberto Zuzzi, que traz o empreendedorismo nas veias, nascido em 1938, na cidade de Pádova, descreve sua imigração para o Brasil como desprovida de desafios, porque chegou ao país de avião. Sua adaptação a uma nova cultura foi relativamente fácil. Ao desembarcar em Recife, não teve interações significativas com a comunidade italiana, pois a cidade não tinha uma comunidade estabelecida.

Em 1969, Zuzzi chegou ao Brasil para trabalhar no desenvolvimento de partes mecânicas na montagem de moinhos de trigo, dos quais se tornou sócio. Após 30 anos, iniciou a construção de um moinho de trigo solo, com capacidade de 200 toneladas por dia, vendido à Cargil após dois anos. Posteriormente, associou-se ao Banco BVA, mas em pouco tempo, sentiu que o segmento não o satisfazia, logo optou por dedicar-se ao agronegócio, adquirindo fazendas no Mato Grosso.

Construir uma família no Brasil foi fácil, mantendo valores e tradições italianas, como o apreço pela comida, vinho e, principalmente, pelo pão. Alberto manteve sua conexão com a cultura italiana por meio de leituras, jornais e visitas à Itália, valorizando o convívio familiar ao redor da mesa, e o legado dos imigrantes italianos no Brasil, especialmente na culinária e na hospitalidade.

Para Zuzzi, ser italiano e viver no Brasil é ser parte de uma civilização inventiva. Ele aconselha os jovens a acreditarem no futuro e não terem medo de ser feliz. Celebrando os 150 anos da Imigração Italiana, ele planeja continuar criando oportunidades e vê um futuro promissor para a comunidade ítalo-brasileira.

Quando questionado se, em algum momento de sua trajetória ocorreu algo quando tivera pensado em voltar à Itália, o empresário foi categórico: “NUNCA”! “Independentemente das circunstâncias, vale mais uma vez o ditado popular brasileiro”. “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

Maior comunidade italiana fora da Itália

A imigração italiana desempenhou um papel importante na configuração da identidade cultural e social do país. É a maior comunidade italiana fora do seu território. Destes, entre 15 e 20 milhões estão no estado de São Paulo, de acordo com o Consulado-Geral da Itália.

A capital paulista possui instituições simbólicas para a comunidade, como o colégio Dante Alighieri, considerado o maior colégio italiano do mundo; e o Circolo Italiano, uma das mais antigas associações italianas do país.

Giovanni Manassero, que é imigrante e conselheiro do Circolo, lembra que a instituição centenária, assim como outras associações da comunidade, passou por dificuldades, no período da Segunda Guerra Mundial.

Cidadania Italiana: De acordo com a Embaixada, cerca de 30 milhões de brasileiros possuem o direito à cidadania italiana. Aproximadamente 797 mil brasileiros têm cidadania italiana. A procura pelo visto tem sido um caminho utilizado por muitos brasileiros que buscam o rumo inverso dos ancestrais. A cidadania italiana é baseada no princípio do “jus sanguinis”, ou seja, no direito de sangue. Para reconhecer a cidadania italiana, o cidadão precisa comprovar o vínculo familiar por meio de documentos oficiais. Antigamente, todo o processo era presencial, porém, com a digitalização do processo durante a 86ª Sessão Virtual do Conselho Nacional de Justiça, o procedimento tornou-se menos burocrático, permitindo incluir mais pessoas da mesma família no processo, o que gera uma economia substancial no investimento.

Conclusão

A imigração italiana no Brasil é mais do que um capítulo da história; é um legado vivo que permeia nossa cultura, sociedade e economia. Os relatos de Giovanni Visciglia e Alberto Zuzzi são exemplos inspiradores da força e da determinação dos imigrantes italianos, que, mesmo enfrentando desafios, contribuíram significativamente para o desenvolvimento do Brasil. Que este aniversário de 150 anos inspire-nos a valorizar e preservar a rica herança deixada por esses bravos homens e mulheres.

 

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