Fala Dr. - Mieloma Múltiplo

Mieloma Múltiplo: um desafio da saúde hematológica

Detectar precocemente é fundamental para o combate a essa neoplasia de alta letalidade

 

O Mieloma Múltiplo (MM) figura como o segundo tipo mais comum de câncer hematológico globalmente, com frequência diagnosticado em estágios avançados. Esta condição, quando descoberta tardiamente, assume características altamente letais, alertam os especialistas, destacando a importância da identificação precoce dos sintomas, como cansaço e dor óssea, por vezes interpretados como sinais comuns do envelhecimento.

Apesar de sua raridade, estima-se que aproximadamente 7 mil novos casos de Mieloma Múltiplo sejam diagnosticados anualmente, no Brasil. Dados da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, em 2020, o MM contribuiu com 176.404 novos casos e 117.077 óbitos em ambos os sexos.

No Brasil, dados do Painel Oncologia Brasil mostram que, entre 2013 e 2019, foram diagnosticados cerca de 2.600 casos de Mieloma Múltiplo, anualmente, em ambos os sexos, estimando-se 1,24 casos/100 mil habitantes.

Os principais fatores de risco para o Mieloma Múltiplo incluem idade, sexo, raça e histórico familiar. Embora apenas 15% dos diagnósticos ocorram em pessoas com menos de 55 anos, mais de 60% dos casos são identificados em adultos com mais de 65 anos. O Mieloma Múltiplo afeta principalmente pessoas com idade mediana de 63 anos, segundo dados do Observatório de Oncologia.

Segundo a Doutora Mariana Oliveira (CRM/SP – 88143), Onco-hematologista da Oncoclínicas São Paulo, o diagnóstico tardio do MM é comum devido à manifestação de complicações graves, como fraturas ósseas, infecções e anemia, antes da identificação da doença. A falta de conhecimento sobre suas causas implica a ausência de formas comprovadas de prevenção, destacando a importância da atenção a qualquer alteração na saúde para um diagnóstico precoce e eficaz.

Fatores de Risco e Prevenção

Embora alguns fatores aumentem o risco de desenvolver o Mieloma Múltiplo, sua causa ainda não é totalmente compreendida, tornando a prevenção uma questão desafiadora. Recomenda-se vida saudável, com dieta equilibrada, prática de exercícios físicos regulares, não fumar e moderação no consumo de álcool.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico do Mieloma Múltiplo pode ser realizado por meio de diversos exames, como hemograma, radiografia e tomografia. O tratamento deve ser iniciado assim que os sintomas manifestarem-se, com opções que incluem quimioterapia, medicamentos inibidores e imunoterapia. Em casos de recidivas, medicamentos imunomoduladores podem ser uma alternativa.

O transplante autogênico de células-tronco periféricas é também opção para pacientes com menos de 65 anos e resistentes à quimioterapia. O tratamento de suporte visa reduzir os sintomas físicos, fortalecendo os ossos e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Avanços no tratamento do Mieloma Múltiplo: contribuições do NATS HC Unicamp

Segundo o Doutor Cármino Antônio de Souza (CRM/SP - 25181 SP), médico hematologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, “o Mieloma Múltiplo (MM) emerge como uma das doenças mais desafiadoras na área da hematologia, sobretudo entre os idosos, devido ao aumento da expectativa de vida da população. O crescimento da incidência do MM supera em 2% a 3% o ritmo populacional anual, resultando em um contingente cada vez maior de pacientes”.

Anteriormente considerado uma doença devastadora, o MM agora é tratável, graças à incorporação de diversos medicamentos, como o bortezomibe, que possibilitam uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. O Doutor Cármino destaca a importância dos avanços terapêuticos, que têm permitido aos pacientes viverem com atividades praticamente normais, apesar de o MM ainda ser incurável.

O papel do Núcleo de Avaliação de Tecnologias (NATS) do Hospital das Clínicas (HC) Unicamp é fundamental, nesse contexto. A equipe do NATS, em colaboração com o Ministério da Saúde, participou da atualização das Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas (DDT) do MM, documentos que orientam as melhores práticas no diagnóstico e tratamento da doença no Sistema Único de Saúde (SUS).

Uma das propostas apresentadas pela equipe do NATS foi a incorporação do teste citogenético por Hibridização “In Situ” por Fluorescência (FISH) para detectar alterações citogenéticas de alto risco em pacientes com MM. Além disso, as DDT fornecem recomendações sobre o uso do bortezomibe, medicamento incorporado ao SUS em 2020.

O Doutor Cármino enfatiza que, “embora a introdução do bortezomibe e dos testes citogenéticos no SUS tenham levado quase uma década, esses avanços representam uma mudança significativa no tratamento do MM”. Ele expressa otimismo quanto ao futuro, sugerindo que, nos próximos anos, possa haver até mesmo a possibilidade de cura para o Mieloma Múltiplo.

Em síntese, os esforços conjuntos do NATS HC Unicamp e do Ministério da Saúde têm sido fundamentais para melhorar o manejo clínico do MM, oferecendo esperança e qualidade de vida aos pacientes afetados por essa condição hematológica desafiadora.

Fontes: https://www.gov.br/conitec/

https://grupooncoclinicas.com/

https://hc.unicamp.br/

 

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